Desde que me conheço por gente frequento Paraty. A
primeira vez que meus pais foram para lá, eu estava na barriga da minha mãe.
Naquele tempo a estrada não era asfaltada, e erámos obrigados a ir pela estrada
Paraty-Cunha. Lembro-me perfeitamente de um bar que meu pai costumava parar em
Guaratinguetá, a guisa de colher informações sobre as condições do tempo e da
estrada, pois afinal, o trecho dali por diante seria todo de terra.
Foram inúmeras vezes que tivemos que descer do carro
para empurrá-lo, pois atolávamos com frequência. Que pique e que coragem que
meus pais tinham! Colocavam três crianças pequenas num carro, e se dispunham a
se aventurar pela estrada afora, sem saber quanto tempo levariam para chegar.
Passávamos no mínimo dois meses por lá a cada verão.
Meu pai ia e vinha, pois tinha que trabalhar. Ficávamos com a minha mãe.
Tínhamos muitos amigos caiçaras, pois afinal de
contas, naquela época não existiam turistas por lá – nós éramos um “acidente de
percurso”! Talvez pelo fato de ter pai paulista, e mãe carioca, a escolha deles tenha sido Paraty, pois ficava no meio dos dois estados!
Quando alguém passava em casa, e dizia: “- o fulano
ficou na roça, ou, “tô indo para a roça”, eu - ainda criança - ficava me
perguntando: “_ O que é roça? Onde fica?” Não conseguia entender o verdadeiro
significado. Eu ficava intrigada.
No dicionário a roça seria a zona rural, campo. Também
chácara para cultivo de frutas e hortaliças.
Conversando com a caseira do meu sítio, eu lhe
perguntei como ela definiria a roça. Ela disse: “ –fartura!” Gostei da
definição, pois na roça tudo é em abundância. A gente tem o trabalho de plantar
as árvores apenas uma vez na vida, e ao longo dos anos, vamos tendo surpresas
incríveis.
Hoje o meu quintal tem amora, caju, laranja, acerola, pitanga,
banana... você planta uma vez na vida, e colhe por muitos anos. Sem contar a
água que vem pura de uma nascente.
A alegria de ficar na roça é total – plantando,
colhendo, vendo animais silvestres, o céu estrelado, a chuva, as flores, o
cachorro e a galinha. Sem contar o espaço e o silêncio.
Fiquei por quinze dias sozinha no meu sítio
interagindo com “a roça”. Tem coisa para fazer o dia inteiro. Uma maravilha.
Não me senti só nem por um segundo, pelo contrário, me senti muito bem
acompanhada...
Ana, o seu blog é uma delícia. As imagens são uma delícia. O texto é uma delícia. Rico. Vivo. Fresco. Se já é bom ter essa experiência... Esse olhar é melhor ainda!
ResponderExcluirAna, que linda experiência que viveu. Um olhar muito delicado e um texto muito apaixonante. Da vontade ver mais fotos e continuar a ler a sua historia.
ResponderExcluirAdorei o significado da roça.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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